FENÔMENO DOS RIOS VOADORES
Os rios voadores são “cursos de água atmosféricos”, formados por massas de ar carregadas de vapor de água, muitas vezes acompanhados por nuvens, e são propelidos pelos ventos. Essas correntes de ar invisíveis passam em cima das nossas cabeças carregando umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Essa umidade, nas condições meteorológicas propícias como uma frente fria vinda do sul, por exemplo, se transforma em chuva. É essa ação de transporte de enormes quantidades de vapor de água pelas correntes aéreas que recebe o nome de rios voadores – um termo que descreve perfeitamente, mas em termos poéticos, um fenômeno real que tem um impacto significante em nossas vidas.
A floresta amazônica funciona como uma bomba d’água. Ela puxa para dentro do continente a umidade evaporada pelo oceano Atlântico e carregada pelos ventos alíseos. Ao seguir terra adentro, a umidade cai como chuva sobre a floresta. Pela ação da evapotranspiração da árvores sob o sol tropical, a floresta devolve a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor de água. Dessa forma, o ar é sempre recarregado com mais umidade, que continua sendo transportada rumo ao oeste para cair novamente como chuva mais adiante.
Propelidos em direção ao oeste, os rios voadores (massas de ar) recarregados de umidade – boa parte dela proveniente da evapotranspiração da floresta – encontram a barreira natural formada pela Cordilheira dos Andes. Eles se precipitam parcialmente nas encostas leste da cadeia de montanhas, formando as cabeceiras dos rios amazônicos. Porém, barrados pelo paredão de 4.000 metros de altura, os rios voadores, ainda transportando vapor de água, fazem a curva e partem em direção ao sul, rumo às regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e aos países vizinhos.
É assim que o regime de chuva e o clima do Brasil se deve muito a um acidente geográfico localizado fora do país! A chuva, claro, é de suma importância para nossa vida, nosso bem-estar e para a economia do país. Ela irriga as lavouras, enche os rios terrestres e as represas que fornecem nossa energia.
O principal rio voador do Brasil nasce no oceano Atlântico, bomba de volume ao incorporar a evaporação da floresta Amazônica, bate nos Andes e escapa rumo ao sul do país. “O vapor d’água que faz esse trajeto é importantíssimo para as chuvas de quase todo o Brasil”, afirma o engenheiro agrônomo Enéas Salati, da Universidade de São Paulo (USP). Veja a seguir os meandros impressionantes dessa gigantesca corredeira voadora.
O caminho dos rios voadores. Fonte: Projeto Rios Voadores
Etapas do surgimento do fenômeno
1- O rio voador nasce no oceano Atlântico. A água evapora no mar, perto da linha do Equador, e chega à floresta Amazônica empurrada pelos ventos alísios. Esse bloco de vapor passa rasante: 80% dele voa a, no máximo, 3 quilômetros de altura
2- A vazão desse aguaceiro aéreo é da ordem de 200 milhões de litros por segundo (similar à do rio Amazonas), fazendo da Amazônia uma das regiões mais úmidas do planeta, além de provocar as chuvas que desabam diariamente por toda a região
3- Enquanto passa sobre a floresta, o rio voador praticamente dobra de volume. Isso ocorre porque, ao absorver mais radiação do Sol do que o próprio oceano, a mata funciona como uma gigantesca chaleira, liberando vapor com a transpiração das árvores e a evaporação dos afluentes que correm no solo
4- No oeste da Amazônia, a massa de umidade encontra uma barreira de montanhas de 4 quilômetros de altura, a cordilheira dos Andes, que funciona como uma represa no céu, contendo a correnteza aérea do lado de cá
5A- Boa parte do vapor fica acumulada nos próprios Andes, sob a forma de neve. Ao derreter, essa água desce as montanhas, dando origem a córregos que, por sua vez, formarão os principais rios da bacia Amazônica, como o Amazonas
5B- Nem todo vapor que encontra os Andes fica por ali. Cerca de 40% dessa cachoeira celeste segue rumo ao sul. A umidade passa por Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo, terminando a viagem no norte do Paraná, cerca de seis dias depois
6A - Enquanto flui em caudalosos veios rumo ao mar, muito da água proveniente dos rios voadores é absorvido pela floresta. Quando transpiram, as árvores então liberam esse líquido em forma de vapor, fechando o ciclo que novamente alimentará a corrente no céu
6B- Por fim, o rio voador cai em forma de chuva. Mais da metade da precipitação das Regiões Centro-Oeste e Sudeste vem dos rios aéreos da Amazônia. Além desse veio principal, outras 20 correntezas cruzam o céu do país, carregando um volume de água equivalente a 4 trilhões de caixas-d’água de 1 000 litros
Obs. O termo “rios voadores” foi popularizado pelo prof. José Marengo do CPTEC.
Desde 2008, um projeto científico tenta conhecer melhor os rios voadores. O líder da pesquisa é Gerard Moss, engenheiro e explorador francês naturalizado brasileiro. O trabalho dele consiste em voar com um monomotor coletando vapor d’água. “Enquanto todos os pilotos evitam as nuvens, eu vou direto para elas”, diz. Em seu avião, Moss caça a umidade usando tubos de 40 centímetros resfriados a 70 graus negativos. Numa temperatura tão baixa, qualquer vapor que entra no tubo se transforma, imediatamente, em água. As gotas são então armazenadas para a análise em laboratório.
O Projeto Rios Voadores promove a pesquisa do vapor de água amazônico e a divulgação do seu papel no regime de chuvas em outras regiões do Brasil.
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