Estudo mostra efeitos do aquecimento global em grandes cidades costeiras
Investigadores norte-americanos consideraram que o efeito das alterações climáticas pode levar ao desaparecimento, a longo prazo, de grandes cidades como Xangai, Bombaim e Hong Kong, mesmo se o aquecimento global for limitado a 2 graus Celsius (°C).
O estudo do instituto Climate Central, divulgado no domingo (8) à noite e três semanas antes da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP21), indica que com mais 2ºC, o nível da água do mar continuará a subir e pode encobrir territórios onde vivem atualmente 280 milhões de pessoas.
Se o aumento na temperatura for de 4ºC, o fenômeno vai ameaçar 600 milhões de habitantes. “Um aquecimento de 2ºC representa uma ameaça à existência, a longo prazo, muitas grandes cidades e regiões costeiras”, disse Ben Strauss, um dos autores do estudo.
Mas as medidas tomadas para reduzir rápida e drasticamente as emissões de gases de efeito de estufa, que alteram o clima, podem fazer a diferença: “Ainda temos diante de nós um amplo leque de escolhas”, acrescentou o pesquisador.
Se as emissões de gases de efeito de estufa continuarem a aumentar, levando a um aquecimento de 4ºC, o nível das águas subirá, em média, 8,9 metros, mostra o estudo.
Com um aquecimento de 3ºC, o nível da água do mar subirá 6,4 metros, cobrindo áreas com mais de 400 milhões de habitantes.
Com 2ºC, o mar subiria 4,7 metros e duas vezes menos pessoas seriam afetadas. Com uma elevação de 1,5°C na temperatura – objetivo exigido pelas nações mais vulneráveis como os pequenos Estados insulares, as águas subiriam 2,9 metros e a população afetada ficaria em torno de 137 milhões de pessoas.
A China será o país mais afetado: com 4ºC, a subida das águas afetará uma área onde vivem atualmente 145 milhões de pessoas, de acordo com este estudo que não avalia a evolução demográfica, nem a construção de infraestruturas, como diques.
Outros países serão particularmente afetados: Índia, Bangladesh, Vietnã, Indonésia, Japão, Estados Unidos, Filipinas, Egito, Brasil, Tailândia, Birmânia e Holanda. Entre as principais cidades contam-se Hong Kong, Calcutá, Dacca, Jacarta, Xangai, Bombaim, Hanói, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Nova Iorque e Tóquio.
No site do Climate Central é possível ver imagens com projeções do impacto da elevação do nível do mar em várias cidades costeiras, inclusive o Rio de Janeiro.
As projeções levam em consideração a dilatação do oceano quando aquecido, o degelo de geleiras e a degradação das calotas polares da Groenlândia e da Antártida, irreversível a partir de um determinado ponto.
Essa elevação será diferente em cada uma das regiões. “Na maioria dos casos, ela pode traduzir-se num centímetro por século, mas os deltas e as zonas urbanas” são mais vulneráveis, especificamente, porque estão menos protegidos pelos sedimentos.
O estudo baseia-se em dados de satélites sobre o nível dos oceânicos.
Steven Nerem, da Universidade do Colorado (EUA) analisou a metodologia do estudo e concluiu que existem “alguns erros em locais”, mas considerou ser “o melhor que se pode fazer com os dados públicos disponíveis”.
Jean-Pascal van Ypersele, do grupo internacional de peritos sobre o clima (GIEC), afirmou tratar-se de “um estudo sólido”.
Para o oceanógrafo Ben Marzeion, da Universidade de Bremen (Alemanha), os dados apresentados no estudo “podem representar um incrível fardo para muitas gerações futuras”.
A temperatura do planeta subiu, desde a Revolução Industrial, 0,8ºC, um ritmo inédito provocado pela emissão de gases de efeito estufa.
A comunidade internacional fixou o objetivo de manter a alta da temperatura abaixo dos 2ºC e deve se reunir em 30 de novembro, em Paris, para tentar concluir um acordo universal que permita alcançar essa meta.
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